top of page

Jovens artistas e o desafio das plataformas digitais


ree

Fonte: Acervo Pessoal

Nos últimos anos, plataformas como Spotify, YouTube e TikTok se tornaram os principais canais de distribuição de música e vídeo. Elas oferecem alcance global e democratização do acesso: qualquer pessoa pode subir sua obra e, em questão de minutos, estar disponível para milhões.

Porém, essa vitrine vem acompanhada de contradições. As plataformas lucram majoritariamente com publicidade e assinaturas, retendo uma parte considerável da receita antes que chegue aos artistas. No caso do Spotify, o pagamento por stream é extremamente baixo, variando em média de US$ 0,003 a US$ 0,005 por execução, e ainda assim precisa ser dividido com gravadoras e distribuidoras. O resultado é que a maior parte dos ganhos se concentra nos grandes nomes, enquanto artistas emergentes ficam com uma fatia mínima.


ree

Fonte: Acervo Pessoal

Para os jovens artistas, não estar nessas plataformas significa praticamente não existir no mercado atual. Elas funcionam como a vitrine obrigatória para quem quer ser ouvido, descoberto ou compartilhado. O primeiro lançamento, mesmo que simples, é fundamental para começar a construir um histórico digital, ganhar seguidores e experimentar a resposta do público.

Essa necessidade, no entanto, traz uma armadilha: o artista se sente obrigado a produzir constantemente conteúdo moldado ao algoritmo — músicas curtas que funcionam em vídeos rápidos, refrões prontos para virar trend, cortes que se encaixam em reels. Assim, muitas vezes a criatividade fica limitada pela lógica da plataforma, não pela visão artística.


ree

Fonte: Acervo Pessoal

No interior da Bahia, essa realidade ganha contornos ainda mais intensos. Muitos jovens músicos da região enfrentam barreiras estruturais:

  • Acesso limitado a estúdios de gravação: boa parte dos artistas independentes dependem de home studios improvisados, feitos em quartos ou salas adaptadas.

  • Conectividade precária: a internet instável de cidades do sertão muitas vezes atrapalha desde o upload de faixas até as transmissões ao vivo.

  • Poucas casas de show e eventos: a cena local oferece poucos espaços formais para apresentações, obrigando os artistas a criarem alternativas em praças públicas, bares pequenos ou eventos comunitários.

Mesmo assim, a juventude baiana encontra caminhos criativos para se inserir. Muitos lançam suas músicas no Spotify via agregadores digitais de baixo custo e fazem divulgação pelo TikTok e Instagram, usando a estética local — o sotaque, a gíria, a batida regional — como diferencial competitivo. Outros fortalecem o movimento através de coletivos culturais e festivais independentes, que funcionam como redes de apoio mútuo.

Essa vivência mostra que, mesmo diante da dependência das plataformas, os artistas do interior baiano resistem: transformam limitações em linguagem estética e constroem um público fiel que os acompanha tanto no digital quanto no físico.


Nesse contexto, a produção independente ganha força como saída estratégica. Ela permite que o artista:

  • Controle seus direitos autorais e não dependa totalmente de gravadoras.

  • Experimente formatos e estilos que vão além do que é “tendência do momento”.

  • Diversifique receitas, explorando shows, merchandising, financiamento coletivo, aulas e parcerias diretas com fãs.

  • Construa comunidade: em vez de depender apenas de algoritmos, investir em criar vínculo real com seu público — newsletters, grupos fechados, lives intimistas.

Independência não significa isolamento. Plataformas de distribuição digital como DistroKid, TuneCore, CD Baby permitem que qualquer artista lance suas músicas em todas as plataformas de streaming de forma relativamente acessível, mantendo controle sobre suas obras.


ree








Fonte: Acervo Pessoal

As plataformas digitais são, ao mesmo tempo, portas de entrada e campos de batalha para jovens artistas. Elas oferecem visibilidade, mas também podem aprisionar em lógicas de baixa remuneração e dependência algorítmica.

No interior da Bahia, a luta é dupla: além dos desafios globais das plataformas, há os limites da infraestrutura local. Ainda assim, os jovens músicos sertanejos mostram que é possível criar caminhos de resistência, valorizando a identidade cultural, fortalecendo redes independentes e ocupando tanto o digital quanto os territórios da vida real.

O futuro da música no sertão depende justamente dessa combinação: usar as plataformas sem ser engolido por elas, lançar-se cedo, mas sempre com consciência crítica e foco na autonomia criativa.




REFERENCIAS:


BERTAGLIA, T. et al. The monetisation of toxicity: analysing YouTube content creators and controversy-driven engagement. arXiv, 2024. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2408.00534. Acesso em: 30 set. 2025.

CHOI, J. et al. Creator-friendly algorithms: behaviors, challenges, and design opportunities. University of Texas, 2023. Disponível em: https://pages.ischool.utexas.edu/hai-files/files/publications/74/2023-creator_friendly_algorithms.pdf. Acesso em: 30 set. 2025.

HERMAN, L. For who page? TikTok creators’ algorithmic dependencies. IASDR Conference Proceedings, 2023. Disponível em: https://dl.designresearchsociety.org/cgi/viewcontent.cgi?article=1248&context=iasdr. Acesso em: 30 set. 2025.

HOFSTETTER, R. et al. Resolving tensions between authenticity and monetization in creator work. Journal of Business Research, 2024. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0167811624000557. Acesso em: 30 set. 2025.

PODER360. Artistas brasileiros receberam R$ 1,6 bilhão do Spotify em 2024. 2024. Disponível em: https://www.poder360.com.br/poder-cultura/artistas-brasileiros-receberam-r-16-bilhoes-do-spotify-em-2024/. Acesso em: 30 set. 2025.

REMESSA ONLINE. Spotify grátis remunera artistas e podcasts. Blog Remessa Online, 2023. Disponível em: https://www.remessaonline.com.br/blog/spotify-2/. Acesso em: 30 set. 2025.

REVISTA BRADO. Artistas reclamam de baixa remuneração das plataformas de streaming. Medium, 2023. Disponível em: https://medium.com/revista-brado/artistas-reclamam-de-baixa-remunera%C3%A7%C3%A3o-das-plataformas-de-streaming-51ee778eb34f. Acesso em: 30 set. 2025.

ROSENBLATT, B. Spotify’s new royalty model confronts the age of musical overabundance. Forbes, 2023. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/billrosenblatt/2023/10/26/spotifys-new-royalty-model-contends-with-the-age-of-musical-overabundance/. Acesso em: 30 set. 2025.

SCIELO. Curadoria e descoberta musical no Spotify. Sociedade e Estado, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/soc/a/5XZxPbPwL7VhPdhdLgbmzfF/. Acesso em: 30 set. 2025.

SCIELO. Digitalização e cadeia global de valor da música. Sociologias, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/se/a/tYGNp7ZjFdQHJHpcgMtFc8m/. Acesso em: 30 set. 2025.

SCIELO/INTERCOM. Limites da democratização da distribuição da música digital. Congresso Intercom, 2023. Disponível em: https://sistemas.intercom.org.br/pdf/link_aceite/nacional/11/0816202309245164dcc01397cfe.pdf. Acesso em: 30 set. 2025.

STERN, S. The inequalities of digital music streaming. The Regulatory Review, 2024. Disponível em: https://www.theregreview.org/2024/05/30/stern-the-inequalities-of-digital-music-streaming/. Acesso em: 30 set. 2025.

THE GUARDIAN. Spotify is trumpeting big paydays for artists … but only a tiny fraction are actually thriving. 2025. Disponível em: https://www.theguardian.com/music/2025/mar/12/spotify-is-trumpeting-big-paydays-for-artists-but-only-a-tiny-fraction-of-them-are-actually-thriving-loud-and-clear-report. Acesso em: 30 set. 2025.

WIKIPEDIA. Criticism of Spotify. 2025. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Criticism_of_Spotify. Acesso em: 30 set. 2025.

 
 
 

Comentários


Forma Borbuleta _edited_edited.png
Forma Borbuleta _edited_edited.png
Forma Borbuleta _edited_edited.png

© 2035 by CASULO CRIATIVIS. Powered and secured by Wix 

bottom of page